– Centenas de prefeitos na França se opuseram à lei sobre o casamento homossexual, mas foi só você que teve coragem de se recusar a registrar um casamento de dois homens. Como você pode explicar isso?
– É que a minha prefeitura recebeu um pedido de registo de um tal casamento. No total, em toda a França, mais de 22 mil representantes de prefeituras assinaram petições contra essa lei, mas agora somos seis ou sete os que receberam pedidos concretos. Tudo o que podemos fazer é adiar ao máximo o dia do casamento, prolongar o processo de consideração. Não temos outra saída, porque senão corremos o risco de multas enormes. Por exemplo, à minha equipe disseram 1000 euros por dia. Quando se trata de tal quantia, é claro que você começa a pensar de forma diferente. Mas eu continuarei a lutar de qualquer forma, essa lei deve ser cancelada a qualquer custo. Devemos tentar resolver o problema de transferência de heranças para casais homossexuais, rever as condições do contrato civil, porque o casamento é um valor cristão e nós não podemos traí-lo. Dado o clamor público que a lei causou, os resultados do protesto público serão vistos nas próximas eleições.
– Ao vos ameaçar com uma multa o estado, de fato, o forçou a registrar um casamento do mesmo sexo. Como você vê esse gesto?
– Na França, hoje, vivemos num estado totalitário, onde o significado de palavras como “República” é interpretado conforme a situação: dizer “eu sou republicano, eu sou democrata” significa “eu posso fazer o que me apetecer”. Mas isso é enganoso. O governo atual está longe de ser uma democracia em seu sentido original. E a forma como esta lei foi aprovada entrará para a história: apressadamente, em circunstâncias estranhas, e com muitas lacunas. Por exemplo, não diz nada sobre o divórcio. Tudo foi feito apenas para satisfazer uma minoria absoluta. Eu tenho amigos gays e eles me apoiaram, eles também são contra esses casamentos para inglês ver. Mas o pior é que estamos salientando um segmento da sociedade que já há muito que está integrado. Esta lei apenas despertou sentimentos homofóbicos na França. Eu recebo muitas cartas e tenho que acalmar as pessoas e explicar-lhes que não sou contra as pessoas homossexuais. Sou a favor da preservação da instituição do casamento, eu sou a favor da família tradicional e contra a adoção de crianças por casais do mesmo sexo.
– Você disse que a única saída é prolongar o procedimento de consideração de pedidos de casais do mesmo sexo. Mas, ao mesmo tempo, há um decreto do ministro do Interior que ameaça uma multa ou até mesmo prisão por tais medidas. Você acha que este decreto vai por fim ao debate?
– Nós já apresentamos uma queixa contra Manuel Valls ao Conselho Estatal de Paris por “abuso de autoridade”. Acredito que temos toda a razão. Temos que defender o nosso “direito de consciência” que nos permite recusarmo-nos a desempenhar as nossas funções se elas vão contra nossos princípios morais. Quando me recusei a casá-los, alguns prefeitos da região se ofereceram para recebê-los em suas povoações. Qual é o problema? E não haveria conversa nem ameaças.
– Então você acredita que para o governo esta é uma questão de princípio?
– Sim. Acima de tudo, eu desejo que a primeira coisa que o próximo governo faça, seja ele qual for, é revogar esta lei. Mais que isso, eu quero que seja nessa promessa pré-eleitoral que se baseie a futura campanha presidencial.
– Hoje, na França, se alguém é contra o casamento gay, é imediatamente acusado de homofobia. Por quê?
 – A França se esgotou. Calcule você mesmo: quando Jean-Marie Le Pen falou sobre imigrantes, sobre um problema que realmente existe, ele foi logo acusado de racismo. Eu expresso muito claramente a minha posição, dizendo que amar alguém do mesmo sexo é a escolha de cada um, mas para mim o casamento é a união de um homem e uma mulher. Eu também fui acusado de homofobia, apesar de que eu e os meus colegas estamos fazendo tudo para evitar tais sentimentos em nossa sociedade. A discriminação é um crime na França. E Manuel Valls lembrou de uma forma bastante agressiva que esse crime é punível: 75 mil euros e 6 meses de prisão. Eu não entendo para onde está indo a França, quando alguém que é contra uma lei, um cidadão comum, é emprisionado por dois meses logo após a primeira audiência de tribunal, enquanto que desordeiros de bairros problemáticos saem limpos. Por seus crimes eles são condenados a penas suspensas. Parece-me que estamos indo na direção errada e o futuro da França me assusta.