UM HERÓI BRASILEIRO, CIENTISTA, MÉDICO
TRABALHA SEM APOIO NENHUM DO IBAMA, DO GOVERNO(?) BRASILEIRO

Núcleo Serra Grande de reprodução em cativeiro de Lachesis muta rhombeata: pelas últimas Surucucús da Mata Atlantica. Serra Grande, Bahia - Brasil, talk to me (Rodrigo) directly: lachesisbrasil@hotmail.com English version: http://www.lachesisbrasil.com.br/ Videos e publications: http://www.lachesisbrasil.com.br/downloads_nsg_en.html
Ao meu herói, José Hamilton Ribeiro
Faz quase dez anos que te enviei aquela primeira carta. "Quando o fogo cerca e mata onça, é porque o negocio foi feio ..." lembra ? Quando a causa é justa, mas estamos sozinhos, é feio também. Quem sabe o Sr. não aceita um café com broa lá em Serra Grande ?
Fui procurado por produtores do Globo Rural (Mariana e Cesar), e queria te explicar de forma sucinta o que vem a ser o Núcleo Serra Grande: origens, desafios, objetivos.
Essa historia vem de longe. Desconfio que tudo tenha nascido quando eu tinha uns oitos anos de idade e visitava meu avô num hospital. No leito ao lado ao seu, havia um estranho menino azul (cianótico), “picada de cascavel” disseram. Iniciou-se ali interesse genuíno, e fui me tornando auto-didata em animais peçonhentos, tanto biologia e classificação dos bichos em si, quanto sinais e sintomas nos envenenamentos.
Aos 14 anos de idade, levado pelo meu cunhado medico, Renato Maia Guimarães, eu já prestava consultoria informal à Toxicologia do Hospital João XXIII, a maior Emergência de Minas Gerais, notadamente quando surgiam dificuldades em classificar cobras corais (“verdadeira ou falsa ? “) ou outras serpentes, bem como aranhas e escorpiões. Meus pareceres de menino, submetidos a escrutínios memoráveis, conduziam tratamentos, ou impediam que soro fosse administrado de forma desnecessária.
Formei-me medico pela UFMG, e aqueles anos de JXXIII acabaram por conduzir-me ao Trauma, à Emergência e à Cirurgia Geral. Dediquei minha carreira ao SUS e à pobreza, sempre no interior, em áreas remotas e desassistidas como o Vale do Jequitinhonha, sempre com grande gosto, bicho do mato que sou, e sempre me deparando com ocorrências envolvendo o ofidismo, araneísmo e escorpionismo, normalmente em condições precárias de atendimento, exigindo-me olho clinico mais que tecnologia.
Cheguei à Itacaré em 2001, convidado pelo prefeito Jarbas Barbosa, para assumir as cesarianas da “Fundação de Amparo à Maternidade de Itacaré”. Em pouco tempo deparei-me com o problema do resgate de fauna encontrada em áreas antropizadas, em especial numa região conhecida por ‘Bairro Novo’, uma invasão descontrolada em área de mata Atlântica primaria.
Graves problemas operacionais e de material humano impediam (e impedem) que o Estado (Ibama, Bombeiros, CRA, CEMARH) atendesse a solicitações de remoção de animais selvagens na via pública, e assim, com o tempo, acabei tornando-me parceiro das policias Militar e Civil, que recebiam ligações da comunidade solicitando ajuda para resgates, e encaminhavam-me os pedidos.
O Boletim de Ocorrência acima, relata que 'uma sucuri de 6 metros e 100 kg', presa a uma galhada, desce o Rio de Contas e encalha em frente ao restaurante Senzala, na orla do centro de Itacaré, num sábado (de Carnaval) à noite, e começa a circular pela areia. Centenas de pessoas se agrupam na muralha arremessando latas e pedras no animal. À 1:30 hs da madrugada, recebo em minha casa o PM Avelino, com uma calibre 12 na mão, e uma solicitação singela: “ É Dr.... essa é meio grande, mas veja o que dá para fazer por favor, pois se ela subir para a rua vou ter que atirar ... “.
Removi com segurança o animal, cuidei dele (corte de facão) e procedi com sua soltura em área protegida, em adiantado estado de gravidez. Testemunhas às centenas. Esse evento foi um marco. A notícia se espalhou e a população aderiu de vez ao não abate de fauna silvestre, serpentes em especial, passando a contar comigo.
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Curiosa foi a relação da população para comigo, mulher e filhos. Traziam-nos animais domésticos e bichos feridos na estrada para tratamento, apoio e amparo. Abaixo o porquinho pisoteado pela mãe e também a coruja atropelada, em tratamento intensivo sob cuidados de meu filho Gabriel....
Dentre as serpentes resgatadas surgiam em frequência inédita as lendárias ‘surucucus’. Procedi com auto denuncia ao Ibama em dezembro de 2003, relatando o problema do resgate informal de fauna testemunhado pelo MP local, e que estava mantendo estas serpentes em cativeiro, por não haver condições para realocações (ninguém quer esse animal por perto).
A surucucu é 'um predador de grande porte confinado a uma área restrita, a Mata Atlântica do Rio de Janeiro (desconfio que já esteja extinta nesse estado) ao Rio Grande do Norte e Ceará' (Vanzolini). Enfrenta 93% de destruição do habitat. Já esteve em listas de extinção oficiais e hoje é tida como ‘Vulnerável’ pela “International Union for the Conservation of Nature”. Orlando Villas Boas, em ‘Marcha para Oeste’, e do alto de uma vida em território de Lachesis, fala que essa é 'a única cobra venenosa brasileira que ataca', e essa é uma visão compartilhada pelos nativos da região cacaueira, e assim, esse animal causa um temor que na totalidade dos avistamentos termina em seu abate.
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